Variações sobre um tema de Frank Bridge, op. 10

Benjamin BRITTEN

(1937)

Instrumentação: cordas.

 

Ao longo de toda a sua carreira, Benjamin Britten expressou profundo fascínio pela orquestra de cordas, formação particularmente presente em sua transição dos anos de aprendizagem para os anos de maturidade. Sua primeira incursão nesse universo data de 1930, quando esboçou Dois Retratos, obra que permaneceu inédita até recentemente. Em 1934 compôs a Sinfonia Simples, exemplo de sua devoção à orquestra de cordas. E, três anos mais tarde, retomou o trabalho com essa formação, em razão da encomenda de uma obra para o Festival de Salzburgo de 1937.

 

O ano de 1937 foi decisivo para o compositor inglês. A perda da mãe, ainda em janeiro, embora dolorosa, foi libertadora – Britten viu-se finalmente livre para expressar sua homossexualidade. Em março, conheceu Peter Pears, seu companheiro. E, poucos meses depois, iniciou a composição da obra encomendada por Boyd Neel para o Festival de Salzburgo, as Variações sobre um tema de Frank Bridge. Segundo o musicólogo Eric Roseberry, as Variações formam, juntamente com o Concerto para piano, op. 13, o Concerto para violino, op. 15, e a Sinfonia da Requiem, op. 20, o núcleo do legado orquestral daquele que se tornou o mais célebre compositor inglês do século XX. Concebidas como um tributo a Frank Bridge – a principal referência musical de Britten desde seus 13 anos –, as Variações têm por tema a ideia central do segundo dos 3 Idílios para Quarteto de Cordas de Bridge, tema que Britten já havia usado na composição de seis incompletas variações para piano em 1932. As variações de Bridge, como são conhecidas, contam com uma Introdução e Tema seguidos por dez variações, cada uma delas retratando um traço característico da personalidade de seu mestre. De acordo com as indicações no manuscrito, suprimidas na publicação, o Adágio representa sua integridade; a Marcha, sua energia; o Romance, seu charme; a Ária italiana, seu humor; a Bourrée clássica, sua tradição; a Valsa vienense, seu entusiasmo; o Moto-perpétuo, sua vitalidade; a Marcha fúnebre, sua empatia e compreensão; o Canto, sua reverência; a Fuga e Finale, suas habilidades e nossa afeição.

 

A homenagem a Bridge explora ainda as linguagens de Rossini, Ravel e Stravinsky, sugere a rejeição do compositor à ideia de música absoluta e ilustra sua resistência às obras de Beethoven e Brahms. As Variações evidenciam suas tendências neobarrocas e neoclássicas, alinhadas com as obras de Purcell, Bach e Mozart. Tais tendências manifestam-se em sua obra tanto na obsessão por simetria formal e recapitulações quanto no uso consistente de formas e gêneros como a fuga, o cânone, a passacaglia, as suítes e as variações. A peça é um exemplo do uso que Britten faz da tonalidade progressiva à maneira de Mahler – processo composicional pelo qual uma obra inicia-se em uma tonalidade e é concluída em outra. Composta em pouco mais de um mês, as Variações sobre um tema de Frank Bridge foram estreadas em concerto no dia 27 de agosto de 1937, em Salzburgo, dois dias após terem sido transmitidas pela rádio Hilversum.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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