Concerto para piano nº 26 em Ré maior, K. 537, “Coroação”

Wolfgang Amadeus MOZART

(1788)

Instrumentação: Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

A 23 de setembro de 1790, Wolfgang Amadeus Mozart, seu cunhado violinista Franz de Paula Hofer e um serviçal partiram em carruagem para Frankfurt am Main, onde o Grão-duque Leopoldo da Toscana seria eleito soberano do Sacro Império Romano-Germânico. A comitiva musical, liderada pelos mestres de capela de Mainz, Vincenzo Righini, e de Viena, Antônio Salieri, não incluía Mozart e o cunhado, que viajavam às próprias custas. A sagração de Leopoldo II ocorreu a 9 de outubro e, no final da manhã do dia 15, Mozart apresentou dois de seus concertos para piano e orquestra: o número 19, em Fá maior, KV 459, e o número 26, em Ré maior, KV 537. Ambos ficariam conhecidos pelo nome “Coroação”.

 

Em seu catálogo temático o compositor anota, em 24 de fevereiro de 1788: “Um concerto para piano em Ré maior – com 2 violinos, viola e baixo. Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 clarins e tímpanos ad libitum ”. Os esboços remontam a dezembro de 1786. O manuscrito autógrafo omite a mão esquerda em trechos da parte solista e não fornece indicações de andamento para o segundo e o terceiro movimentos – respectivamente um ABA e um rondó-sonata do tipo ABACBA, onde C corresponde ao desenvolvimento.

 

O Coroação desfrutou de enorme prestígio durante o século XIX. Em 1935, Friedrich Blume considerou-o “o mais conhecido e o mais executado” dos concertos para piano de Mozart. A situação mudaria ainda no segundo quartel do século XX. Em 1939, Cuthbert Gliderstone declarou-o “um dos mais pobres e vazios”. Georges de Saint-Fox (1939), Alfred Einstein (1945), Arthur Hutchings (1948), Jean-Victor Hocquard (1958), Eric Blom (1962), Jean e Brigitte Massin (1969), Denis Forman (1971) e Philip Radcliffe (1978) prosseguiriam na mesma veia. A balança voltaria a pender para o outro lado nos anos 1970. Para Charles Rosen (1971) o KV 537 é historicamente o mais progressista de todos os trabalhos de Mozart, pois modifica o equilíbrio entre os aspectos harmônico e melódico, de tal modo que a estrutura passa a depender, amplamente, da sucessão melódica, enquanto a exuberância da figuração virtuosística compensa a distensão das estruturas harmônica e rítmica. Para Simon Keefe (2001), ele representa uma tentativa de reinvenção do gênero Concerto através da justaposição abrupta de material harmônico contrastante; da supressão de confronto direto entre instrumento solista e forças orquestrais; da omissão de figurações solistas nos locais esperados e de sua transferência para pontos importantes de junção formal; e de disjunções temáticas e harmônicas inusitadas.

 

Chris Goertzen (1991) observa que, diferentemente dos outros doze concertos para piano da maturidade de Mozart, do KV 450 ao KV 595, o de número 26 incorporou um elaborado trabalho de instrumentação a fim de possibilitar sua realização quando apenas as cordas estivessem disponíveis. Em 1788 Mozart já não conseguia os meios para dar continuidade a seus tradicionais concertos por subscrição em Viena, onde podia contar com exímios instrumentistas. A primeira execução documentada ocorreu na corte de Dresden, a 14 de abril de 1789.

 

Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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